MESA DE BAR

  Estou na fossa e com o coração despedaçado. Apesar de não gostar de beber... Vou fazer como a maioria: tentar afogar as mágoas na mesa de um bar. Por que não? Tem tanta música que faz sucesso com esse tema. Não sou melhor e nem pior do que ninguém. Não “to” nem aí para as más línguas. O que importa é o meu desespero, esse bolo na garganta que não alivia.

  É, vou escrever poemas em pedaços de guardanapo, poesias pobres e sem grandes rimas. Também pudera, não sou poeta. Sou apenas uma mulher só, que está com a alma dilacerada por causa de um amor bandido. Quem sabe se eu fosse um Camões ou Carlos Drumonnd de Andrade, ele voltasse para mim? Mas como não sou... – Garçom, desce mais uma. -

  Hoje vou encher a cara e depois ir para o boteco da esquina pedi a saideira. Sabe aquela saideira que nunca acaba, que só tem fim quando o dono do bar olha para você de cara amarrada e diz: - Ô minha senhora, esta é a última.- muito aborrecido – O boteco vai fechar, viu? -

  De repente o bar fecha e me sinto perdida. Para onde vou? O chato que me perguntou as horas, já saiu. Que pena! Pelo menos seria uma companhia. As altas horas da madrugada não dá pra escolher muito. O negócio é rezar para o santo de devoção, me guarda meu São Jorge, que é para não esbarrar com alguém realmente mal-intencionado. Aí... Ferrou! Estou nas mãos de Deus.

  Não tenho opção a não ser seguir ziguezagueando para a casa, sozinha. Eu e a cachaça todo que bebi. Ficar minutos intermináveis tentando acertar a chave na fechadura e correr para o banheiro, antes que vomite a sala toda. Despejar na privada todos os sentimentos reprimidos de revolta, dor, solidão, desespero e desamor.

Ai... Que triste sina daqueles que amam e não são amados. Só me resta arrastar-me para a cama e desabar. Entregar-me sem pudor aos braços de Morfeu. Amanhã? Sempre nasce um novo dia, e, felizmente ou infelizmente, precisamos ir à luta. Precisamos ter fé e acreditar que tudo tem um sentido. Tudo passa na vida. Isso também vai passar.

Georgete Reis