SEGUIDORES

1 de setembro de 2012

O PIANO NATALINO


     

     As pessoas se reúnem em volta da mesa no Natal. Normalmente. Não é o caso de Rita e sua pequena família: ela, o marido, o cachorro e a lembrança do gato falecido. Eles se reúnem em volta de um piano velho, meio que decrépito. Sabe como é... Em casa de pobre tem coisas que ninguém imagina. Coisas do arco da velha.  Quem diria...  O instrumento que antes tão desprezado fora, de repente, ocupa lugar de destaque em um momento tão sagrado: o Nascimento do Menino Jesus. 
A moça, coitada, mora de favor em uma casa que pertence as suas tias. Coisa de herança. Junto com a casa veio o piano. Arre! Fizeram de tudo para trucidar o coitado, mas ele permaneceu ali: forte e impávido. Sem arredar um pé que seja. Também, pudera, para arrastar o danado era preciso, no mínimo, de quatro rapagões bem sarados. O bicho pesava uns 200 kg ou mais. Coisa antiga. Das boas. Assim o piano foi ficando, a contragosto da dona da casa, já que não fora vencido.
- Um dia ainda hei de vencer esse estropício. Vocês vão ver. Vou jogar ele fora sem dó e nem piedade. Não tem serventia nenhuma esse traste. – Pensava ela agoniada com aquela presença constante em seus pesadelos.
A mulher toda vez que olhava para aquele trambolho ficava amuada. A joça só servia para escorar portas retratos, já que estava em estado lastimável. Quebrado, as cordas desafinadas, teclas soltas e descascadas, tinta gasta, sem banco. Solitário, coitado. O sonho de Rita era dar um fim no dito cujo, mas como a grana estava curta para o frete, o piano ia ficando, largado a um canto, desolado. Vivia das lembranças de tempos melhores quando era o centro de ocasiões memoráveis.
Aí que chegou o Natal. Todo mundo atarefado fazendo “os comes e bebes” pra festa. Rabanada, uma carne assada de segunda, farofa e outras coisitas mais. A anfitriã forra a mesa com uma toalha linda, branca, com desenhos de guirlandas douradas nas pontas que ganhara de presente de sua vizinha.
Não sabe que jeito deu até hoje, por mais que se ponha a matutar. Mas o fato, é que o braço dela esbarrou na mesa de vidro que foi ao chão, estilhaçando-se toda, em mil pedaços.  Foi-se a mesa, ficou o piano. O bendito. Salvador da pátria, ou melhor dizendo, do Natal.
Sem opção e muito desesperada, Rita olha para todos os lados procurando uma solução, meio que gelada. Os convidados não tardavam. E agora? Como ia servir a comida? Varre a sala em um piscar de olhos, analisando e fazendo cálculos e abruptamente, dá de cara com o estrupício, chega até a arrepiar, dá um frio na espinha e ela dá um grito:
- O piano, não!

Georgete Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu contato é muito importante para mim, por isso, deixe seu comentário. Obrigada pela visita!

Georgete Reis